quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Rafael

  Naquela semana eu estava ansiosa, já estávamos conversando há alguns dias e queria que chegasse logo o fim de semana para vê-lo. Alguns amigos tinham marcado uma festa que aconteceria no sábado e lá eu o encontraria.
  Não sei dizer ao certo porque mas pensei muito naquele garoto nos dias que pareciam passar lentamente. Todas as manhãs lhe dei bom dia e todas as noites desejei que dormisse bem.
  Era estranho estar com alguém no pensamento que não fosse a garota para quem passei meses escrevendo e desejando, ainda assim era uma ótima sensação.
  Apesar de tê-lo conhecido há quase um ano, confesso não ter reparado antes em sua beleza, não ter prestado atenção em seu belo cabelo loiro, longo e ondulado, nem nos olhos castanhos que se perdem entre as inúmeras sardas em seu rosto, ou mesmo na boca pequena que apresenta um sorriso doce e tão bonito. Se quer notei a graça contida em sua pele clara e no riso sincero.
  Ele tem um jeito singelo de ser, conversávamos até a madrugada e parávamos quando o sono vencia um de nós dois.
Poucas conversas e eu ja lhe escrevi uma breve poesia, a idéia veio depois de alguns comentários de uma amiga, que me inspiraram. Tive medo de que isso o assustasse, que fosse mal interpretado mas não aconteceu. Pude mostrar meus devaneios sem que ele os estranhasse, ou se estranhou, nada me disse a respeito.
  Enfim chegou o sábado, aquele dia em especial pareceu passar mais devagar que os anteriores, fazia calor e eu estava trabalhando, não via a hora de meu expediente chegar ao fim, para ir pra casa e depois encontrar o amigo que iria comigo até o lugar onde aconteceria a tal festa.
  Em casa, depois de inúmeras tentativas frustradas de dar um jeito no meu cabelo e de tirar todas as roupas possíveis do meu  guarda-roupas, decidi usar meu vestido azul e o cabelo preso num coque alto.
  Saí por volta das 19hr e fui ao encontro de meu amigo. Agora além de ansiosa eu também estava nervosa, o momento de encontrar o menino com quem passei a semana conversando, estava se aproximando.
  Não sei se foi minha ansiedade ou se a distância era realmente grande, mas de fato o ônibus parecia nunca chegar ao seu destino. Fui o caminho todo conversando com a pessoa que estava comigo. Um dos assuntos foi a moça que mencionei anteriormente mas não, aquela noite definitivamente não tinha a ver com ela, nem teria.
  Demoramos um pouco para encontrar a casa certa, quando enfim encontramos, fomos entrando e nos direcionando para os fundos, onde ficava a piscina e de onde podia-se ouvir gritos e música alta.
"Festa estranha com gente esquisita", nenhuma frase descreveria melhor aquele momento. Na verdade até pareciam duas festas distintas acontecendo no mesmo local. De um lado alguns conhecidos meus bebiam, fumavam e conversavam, aparentando estarem tão desconfortáveis quanto eu. Do outro lado, em maioria, pessoas que nunca tinha visto antes, meninas de biquíni, dançando, rapazes sem camisa, todos visivelmente longe de seu estado normal.
  Próximo ao portão por onde entrei, o vi sentado em frente as mesinhas de cimento, junto com as pessoas que conheço. E agora? Eu deveria ir falar com ele, não parecia ter pensado nisso antes. Pouco desconcertada cumprimentei rapidamente algumas pessoas e me dirigi para a cozinha, onde estavam as bebidas.
  Me servi de um copo de vinho barato, queria ficar um pouco fora do ar, talvez pra esquecer algo ou quem sabe quisesse sentir-me desinibida para ir até lá e conversar com ele.
  Peguei meu copo e voltei para onde estava, agora eu não podia mais fugir, o cumprimentaria deixando a vergonha de lado ou fugiria e toda a espera teria sido a toa.
  Cumprimentei-o ainda sem jeito, daí em diante as coisas pareceram acontecer como deveriam. Sentei ao seu lado também em frente as mesas, acendi um cigarro e ficamos conversando ali, entre goles e tragos.
  Passado um tempo, quando vi estávamos sentados a beira da piscina, só decidimos levantar dali quando alguém entrou na água, começando a joga-la para todos os lados e ficamos em pé de frente um para o outro, não longe de onde estávamos antes. Em meio as palavras dele, o abracei, sem mais nem menos, apenas porque senti vontade. Insegura sobre dever ou não, o interrompi com um abraço e depois voltamos a nos sentar.
  Um pouco mais de conversa jogada fora e ele me beijou no rosto, virei-me e então aconteceu, nos beijamos. As borboletas em meu estômago pareciam estar desesperadas para sair, sentia sua língua quente encostando na minha e suas mãos grossas que puxavam meu corpo para mais rente ao dele.
  Quis poder fazer com que aquele momento nunca acabasse. Estávamos ali nos beijando, o beijo pelo qual eu tinha esperado.
  Afastei o rosto e deitei a cabeça em seu ombro, sem saber que reação deveria ter depois daquilo, apenas demos as mãos e em um abraço, fiquei olhando para o nada, tentando não abrir um sorriso.
  O ambiente não estava exatamente divertido, ele e os amigos queriam ir embora. Não querendo me separar dele, perguntei se poderia ir com eles e fui.
  Não sabia como aquele garoto ainda poderia ser melhor. Chegando na casa onde ficaríamos, eu estava indisposta, já com muito sono e sem a mínima vontade de ingerir uma gota de álcool que fosse.   Eles falavam de assuntos que eu não conhecia e me senti um pouco deslocada mas isso não importava de verdade.
Fiquei sentada no sofá observando cada movimento dele, a forma como ria, o jeito de andar, a voz, a fala... Tudo parecia se encaixar perfeitamente.
  Alguns momentos ele parava ao meu lado, já com os olhos vermelhos e parcialmente fechados, me beijava com o gosto de álcool na boca e o cheiro de cigarro já preso nas roupas, o que não me incomodava em nada.
  Cada toque dele era único, cada beijo era como se fosse aquele primeiro dado ainda na festa.
Uma hora fui levada para casa e ao se despedir a última coisa que me disse foi "até a próxima".
  Talvez essa história não tenha o desfecho que provavelmente está sendo esperado por quem a está lendo, mas depois dessa noite, na qual dobrei a esquina de casa olhando para o céu sem estrelas ou luar, sorrindo e quase girando, passamos a nos falar menos, para quem sabe não nos falarmos mais.
Aqui estou contando essa história em 6 páginas de texto, esperando que em algum momento ele possa me ver como eu o vejo e não ser condenada por ser tanto, sentir tanto e querer demais.

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